segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A reunião para comunicar a troca de diretor quase provoca uma crise na escola

A escola foi dirigida durante quinze anos por um único diretor contratado, um dos grandes responsáveis pelo fortalecimento e consolidação da instituição. Ele tinha toda a confiança dos mantenedores, que restringiam sua participação a reuniões quinzenais de acompanhamento e análise das suas decisões. Para a maioria dos pais, o diretor era considerado um dos donos, tal era o seu envolvimento no dia-a-dia da escola.
Porém, o crescimento da escola atingiu um ponto em que este esquema de direção deixou de funcionar satisfatoriamente. Os mantenedores chegaram à conclusão de que era hora de trocar o diretor por alguém mais jovem, com novas ideias. Mas não havia ninguém na escola que pudesse substituí-lo, de modo que contrataram uma vice-diretora de uma escola conceituada que foi atraída pela oportunidade de assumir a nova posição. Os acertos levaram praticamente o ano inteiro e, ao final do segundo semestre, os mantenedores decidiram que não podiam esperar mais para comunicar a troca e convocaram os pais para uma reunião.
Por mais bem preparada que tivesse sido a pauta da reunião, tudo saiu errado.
Antes de começarem as explicações, os pais expressaram apreensão e contrariedade quanto à iniciativa, alguns até de forma agressiva. Controlar essas emoções e as insatisfações causadas pelo longo processo de substituição do diretor exigiu toda a habilidade e paciência dos mantenedores e passou a ser o maior desafio da reunião. Onde foi que a escola errou?

Comentário

O desgaste de uma relação nem sempre é percebida. Enquanto a troca ficou restrita ao diretor e aos mantenedores ainda era um fato interno. Mas, quando os canais informais entraram em ação, diversas versões da notícia circularam soltas na escola, as tensões se manifestaram e culminaram num momento de tensão exacerbada durante a reunião.
Não se pode subestimar ligações emocionais. Segundo perceberam os professores que acompanharam a reunião e ajudaram a jogar água na fervura, a ligação emocional com o ex-diretor era muito grande e a sua saída trouxe uma sensação de abandono e descaso, por parte dos pais e alunos.
Trocar de diretor no final do ano não foi a melhor escolha. Muitos pais não discordavam da decisão, como ficou claro no transcorrer da reunião. Só avaliavam com razão a época escolhida para anunciar, uma vez que a troca já havia sido decidida há mais tempo. No final do ano fica a impressão que não há mais tempo para mudar de escola.
Estilo diferente x demandas pendentes. A troca significou para outros pais a ruptura da escola com o estilo do diretor demitido. Podia dar certo, mas a escola não avaliou corretamente o clima interno e as demandas pendentes das famílias. Uma coisa interferiu na outra. Vieram à tona logo na hora da reunião.
Equivocada avaliação de que basta a vontade para controlar uma reunião. Os mantenedores preparam um discurso que explicaria todos os fatos que levaram à troca do diretor. Infelizmente isso não foi combinado com os pais e bastaram menos de dois minutos para começar a enxurrada de perguntas. Uma postura mais correta teria sido dizer o motivo da reunião e abrir para os questionamentos. Em vez de se preparar para controlar, o melhor teria sido se preparar para responder e explicar.
Situações como essas podem ter o seu lado positivo. Embora a reunião tenha se transformado numa sessão de lavagem de roupa suja, ela acabou sendo mais positiva do que negativa. A escola não desperdiçou seu momento da verdade. Aproveitou para dar aos pais uma lição de aprendizagem ao ouvir as queixas e demonstrar uma genuína vontade de aprender com elas. Ao final da reunião, apesar do clima pesado, a imagem da escola saiu fortalecida. Os pais foram reconquistados porque:
as queixas foram ouvidas,
as queixas foram levadas em consideração,
as queixas foram tratadas rapidamente.
As avaliações do impacto da mudança continuaram. Foi feita uma avaliação de todo o processo, desde o início das primeiras conversas até o anúncio efetivo. Posteriormente, com base na avaliação, a nova diretora assumiu, reuniu-se com todas as famílias mais resistentes, e soube conquistar a confiança do corpo docente e dos funcionários. As reações mais violentas dos pais arrefeceram naturalmente à medida que os canais de diálogo entraram em ação.
Uma lição ficou da experiência. Se uma coisa tem chance de dar errado, ela tem preferência sobre as coisas que podem dar certo.

2 comentários:

  1. Caro Horácio,
    Como você, tenho muito tempo de experiência com escolas (minha mãe foi sócia de uma grande instituição) e em escolas (dou aula, agora em uma universidade pública, desde adolescente e adoro).
    O problema maior que tenho vivenciado em instituições particulares é que, nem todas mas a maioria, são verdadeiras empresas de fazer dinheiro, sem qualquer preocupação genuína com a qualidade de ensino e com as implicações éticas do empreendimento.
    Posso estar enganada, mas acho que toda as outras dificuldades decorrem daí.
    Abraço
    Têmis

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  2. Como vai, Têmis

    Em primeiro lugar, obrigado pelo seu comentário. Você não está sozinha, conheço muitas pessoas que pensam igual a você.
    Tenho acompanhado a luta desigual que as escolas particulares têm travado há alguns anos para superar a crise econômico-financeira que afeta o país.
    Quase todas as escolas em algum momento perderam alunos e foram afetadas por algum tipo de ação da concorrência. Os mantenedores poderiam ter passado por cima das preocupações genuínas com a qualidade e com as implicações éticas, como você se refere para atacar a crise.
    Mas preferiram não ir por esse caminho por respeito à sua comunidade de pais, alunos e colaboradores.
    Eu sou testemunha disso.

    Abraço,

    Horacio Rosenthal

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